Integrante da turma 2019 do Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da PPA, a Manioca se prepara para um 2021 agitado, com lançamento de novos produtos e previsão de crescimento de pelo menos 60%.
A empresa começou o ano de 2020 com planos ousados, mas a pandemia da covid-19 fez adiar para 2021 a execução das estratégias previstas. Mesmo assim, a empresa teve muito aprendizado, investiu nas vendas online e está em fase final de negociação para receber um novo aporte de investimentos do Fundo ABF (Althelia Biodiversity Fund Brazil).
É de Belém, no Pará, que a Manioca é gerenciada pelos sócios Joanna Martins e Paulo Reis. A empresa é definida pela dupla como uma pequena indústria de impacto socioambiental, que transforma ingredientes da Amazônia em alimentos naturais, práticos, saudáveis, inovadores e cheios de sabor. Ao mesmo tempo, todo esse processo é feito em diálogo com as comunidades, gerando desenvolvimento local, comércio justo e estruturação de cadeias produtivas.
Com a baixa nas vendas em 2020, a Manioca resolveu experimentar o ecommerce. A resposta foi muito boa. Integrante do movimento Amazônia em casa, Floresta em pé, foi uma das empresas de melhor desempenho nas vendas online junto ao Mercado Livre.
“A partir da parceria com o Mercado livre, conseguimos tornar o ecommerce viável, a ponto de investir. Hoje há uma pessoa na Manioca dedicada ao comércio digital, operações de ecommerce e marketing. Nossa visão sobre isso mudou muito, ” avalia Joanna, CEO da empresa.
O ano de 2020 foi também dedicado a entender melhor o negócio, o consumidor e caminhos possíveis.
“Um dos maiores aprendizados que tivemos desde que criamos a Manioca foi a relação com o mercado. Temos uma visão ‘de dentro para fora’, da Amazônia para o Brasil e para o mundo. E em geral os negócios que inovam e conseguem acesso a mercados são exatamente aqueles que vêm de fora. Conseguir fazer o que fazemos já é uma mudança de paradigma, porque em geral quem está dentro tem uma visão talvez mais limitada do mercado em geral, não entende muito bem o consumidor de fora, e isso às vezes dificulta a inovação ou adaptação do produto. ”
Novo olhar para o consumidor se reflete em praticidade e sabor

Buscando entender o olhar do consumidor, a Manioca percebeu o desejo de praticidade e de alimentos naturais. Assim, surgiu a diretriz de trabalhar com produtos mais acessíveis, mais simples, e ao mesmo tempo manter a valorização do sabor. Soluções que sejam saborosas, que não façam mal à saúde e que sejam práticas. Essa orientação está presente nos novos produtos que serão lançados ao longo deste ano.
Serão cinco novos produtos, que refletem a vocação da Manioca de ser uma indústria de temperos e sabores da Amazônia. Ao mesmo tempo, a empresa vai começar a atuar em novos segmentos da indústria de alimentos.
O primeiro desses produtos, disponível ao consumidor a partir de fevereiro, é uma nova versão do tucupi, em menor quantidade e já com essa chave de leitura de ser, também, um tempero.
“O tucupi é um produto incrível, 99% das pessoas que provam o caldo gostam. Tem uma aceitação muito boa. Tendo isso em vista, começamos a nos questionar sobre como fazer esse produto se tornar comum na vida dos brasileiros. Deixar de ser amazônico apenas e passar a ser um produto do Brasil. Assim como aconteceu com o pão de queijo, que era de Minas, e o açaí, que era do Pará, e agora ambos são considerados produtos brasileiros, ” define Joanna.
A empresa também lançou recentemente a linha Sementes, que oferece cumaru, nibs de cacau, castanha e, em breve, puxuri. E começou a comercializar seus produtos em Portugal.
Programa de Aceleração da PPA ajudou empresa a entender melhor o seu impacto
Antes de participar do Programa de Aceleração da PPA, a manioca percebia o impacto socioambiental que o negócio gerava, mas não sistematizava esses resultados. A partir do processo de aceleração, a empresa se aprofundou nos impactos gerados em sua cadeia produtiva e voltou ainda mais esse olhar para o negócio.
“Nossas ações se estruturaram, foram sistematizadas. Passamos a ter um olhar ambiental mais aprofundado. Sempre entendemos que, ao fazer o desenvolvimento social de nossos fornecedores, valorizando também a nossa cultura, trazíamos ganhos para a região no aspecto ambiental. Mas a partir da aceleração entendemos que era possível implementar várias outras ações ambientais para ampliar esse ganho, ” destaca Joanna.
Outros pontos destacados pela CEO da Manioca neste processo incluem a conexão que o Programa possibilitou com pessoas, outros negócios e entidades, o que fez com que a empresa percebesse o ecossistema de impacto em desenvolvimento na região e se fortalecesse nesse movimento.
A Manioca participou das duas rodadas de investimento promovidas pelo Programa, e conseguiu investimento em ambas.
“Foram muitos os ganhos que a gente teve com o Programa de Aceleração, e que não aconteceram só naquele primeiro ano, quando fomos acelerados, mas que reverberam até hoje. E isso mostra o quanto essa rede se fortaleceu ao longo do tempo e como essas conexões são importantes e necessárias para que essa região se desenvolva cada vez mais”, avalia ela.
Olhar para a cadeia produtiva



A preocupação em estruturar e fortalecer a cadeia produtiva revela ainda um olhar cuidadoso para os fornecedores, com um programa de desenvolvimento que os prepara não apenas para fornecer os insumos para a Manioca, mas também para a relação com outros potenciais clientes.
Esse preparo inclui adequações sanitárias, formalização e outros pontos importantes para garantir uma padronização mínima dos insumos, ao mesmo tempo em que mantém a pegada artesanal e cultural, respeitando cada produtor.
“A Amazônia é um território onde existe muita produção, mas pouca formalização. Em geral, esses produtores, até por serem da agricultura familiar e pela ausência do estado, são muito pouco profissionalizados e formalizados. O papel do nosso programa é apoiá-los, orientá-los, capacitá-los e fazer com que eles melhorem, seja em suas estruturas ou em seus processos produtivos, na padronização dos produtos. A natureza nos dá produtos diferentes dependendo da época do ano, do solo do território, mas existem processos de produção que conseguem reduzir um pouco essas diferenças”, destaca Joanna.
A Manioca contratou um arquiteto para apoiar os produtores na melhoria de suas estruturas de produção, criando plantas estruturais de casas de farinha, de produção de tucupi e de tucupi preto. Os produtores queriam melhorar as estruturas de produção, mas não sabiam como fazer, porque não existem orientações específicas. Ao mesmo tempo, eles tinham receio de que as estruturas não fossem adequadas ou aceitas para a formalização de seus negócios.
“Queremos garantir boas práticas de manipulação e segurança alimentar, mas em diálogo com a cultura. O processo industrial em geral, de padronização, traz uma cultura externa que muitas vezes oprime a cultura dos nossos povos tradicionais. Nos preocupamos em não tornar o ambiente de produção um ambiente industrial. Ele continua sendo artesanal, mantendo as características culturais de cada produtor, mas ao mesmo tempo traz segurança alimentar, saúde e processos mais padronizados para a gente ter produtos melhores no final. ”