Isabel Sobral FutureBrand SP Zoid Creative

Marcas à prova de futuro: entrevista com Isabel Sobral

Isabel Sobral, FutureBrand SP/Zoid Creative

Negócios de impacto precisam comunicar com efetividade os impactos positivos, sociais e/ou ambientais, que fazem parte de seu propósito. O branding, as narrativas, a identidade verbal e visual, o tom de voz, tudo isso conta no contato com as diferentes audiências com as quais esses negócios dialogam.

A FutureBrand SP, especializada em criar marcas à prova de futuro, tem realizado, em especial na última década, parcerias com organizações da sociedade civil e negócios de impacto no sentido de traduzir em comunicação o impacto que essas instituições geram. 

Dentre essas organizações estão a própria AMAZ, o Idesam, a Climate Ventures e alguns negócios amazônicos, como Café Apuí, Seringô, Na’kau e 100% Amazônia. Segundo Isabel Sobral, sócia-diretora da FutureBrand SP, o trabalho com esse tipo de instituição traz conhecimento sobre temas importantes como mudanças climáticas, sistemas agroflorestais, economia regenerativa, mercado de carbono, e também profundidade em diferentes cadeias como a da moda, da pecuária, do óleo de palma e do cacau. 

“Cada projeto vira uma espécie de especialização em um assunto. E como falar de marcas a prova de futuro se não compreendermos esses temas? Nosso propósito é criar marcas que sejam à prova de futuro e, na minha opinião, só existirá um futuro para nós, seres humanos, se as marcas realmente se preocuparem e agirem em relação ao impacto que geram, minimizando os efeitos negativos, ampliando os positivos e estabelecendo modelos regenerativos em seus negócios. É uma mudança grande de paradigma que está em curso, e as novas gerações têm tudo para se conectarem a isso e fazerem a diferença”, diz Isabel.

Em maio, a parceria entre a FutureBrand SP e a AMAZ promoveu o AMAZ Branding Lab, uma oficina sobre comunicação para os negócios em aceleração neste ano de 2022. Na ocasião, Isabel conversou conosco sobre marcas do futuro, negócios de impacto e comunicação, o início do relacionamento com a aceleradora e tendências de consumo.

Como se deu a aproximação da Future Brand, responsável pelo branding de tantas grandes marcas e com presença no mercado, com negócios de impacto e organizações da sociedade civil? O que motiva essa relação?

Isabel Sobral (IS): Num nível pessoal, desde pequena sempre me conectei muito com questões ambientais, acho que essa coisa de sustentabilidade vem de berço, pela forma como nossos pais e avós nos ensinam a respeitar e honrar a natureza e nos dão oportunidades de viver experiências ligadas a isso. E, crescendo e vivendo num país tão desigual como Brasil, fui me conectando também às questões sociais. Em paralelo a isso, vim trabalhar na FutureBrand (FB), uma consultoria que de fato trabalha com grandes empresas, que geram impactos gigantes, tanto positivos quanto negativos.

Eu já estava há uns sete anos aqui na FB quando senti a minha maior inquietação, aquela crise da busca por um propósito maior. Eu pensei em sair, ir trabalhar em um lugar cheio de propósito, uma empresa B ou coisa do tipo. Por outro lado, também enxerguei que em poucos lugares eu teria um acesso tão fácil a altas lideranças das empresas quanto trabalhando aqui. E é justamente essa liderança que nos contrata como uma consultoria para mostrar o melhor caminho e estratégia de suas marcas para o futuro. Pronto! Eu estava com a faca e o queijo na mão.  

Faltava combinar com o resto da empresa e trazer a temática para a mesa. Começar a falar de sustentabilidade e mudanças climáticas aqui não foi algo rapidamente compreendido por todos, simplesmente parecia que esses temas não cabiam dentro do branding, quando na verdade branding está intrinsecamente ligado a reputação, que por sua vez está ligada ao modo como a marca se comporta diante da sociedade, como ela gera valor para seus stakeholders, quais são suas práticas socioambientais e etc. Era preciso trazer o tema, sensibilizar as pessoas, e foi assim que começamos a nos aproximar desse ecossistema de inovação para impacto.

O primeiro grande marco foi a parceria com a Climate Ventures, já no ano da sua fundação. Queríamos muito fazer algo junto e, desse anseio, veio a ideia de fazer um Comunicathon, que acabou virando um evento para mais de 100 pessoas onde unimos talks de representantes da Coca-Cola, Nespresso, Itaú e Social Docs e trouxemos talks internos sobre temas como Economia Circular no Design e Storytelling para a Sustentabilidade. Nos aproximamos do ecossistema, fui convidada para o Lab de inovação em Manaus, quando conheci o Idesam e o Mariano [diretor de novos negócios do Idesam e CEO da AMAZ]. 

Começamos a fazer projetos para diversas marcas, cada um pagava como podia, o importante era nos conectarmos e encontramos formas de ajudar e viabilizar os projetos. Nosso time foi aprendendo sobre o tema e virando especialista. Uma relação de criação de valor onde todo mundo sai ganhando. Depois veio a pandemia e mudamos o evento para o formato de oficina no online, em 2020 fizemos essa parceria com a PPA, via Programa de Aceleração, e com a Climate ventures novamente. E em 2021 nasceu a AMAZ, batizada por nós e que ganhou forma com essa identidade cativante.

Quantos cases desse tipo a FutureBrand SP já tem em seu portfólio?

IS: Temos uma longa história de projetos ligados a institutos, fundações e organizações da sociedade civil, como Instituto Ayrton Senna, Fundação Lehman e AACD por exemplo, mas não tínhamos no portfólio cases de impacto ligados a empresas de pequeno e médio porte como são as startups aceleradas pela AMAZ. Mas desde 2019, a partir do trabalho com a Climate Ventures, já trabalhamos com empresas e organizações como Boomera, Stattus 4, Confluentes, Seringô, Fundo Vale, Na’kau, Positive Ventures, Mombora, Café Apuí, Idesam, 100% Amazônia, Agropalma, etc. E com nossos grandes clientes também, ajudamos a criar plataformas de sustentabilidade como o Re. da Nestlé e o Cria! da Riachuelo, por exemplo. E temos vários outros casos em andamento.

Tem diferença entre criar para uma grande marca, de grande projeção no mercado, e para negócios de impacto e OSCs?

IS: Tem bastante. Os processos são mais ágeis, a governança bem mais simples e sem hierarquias, existe uma abertura enorme para o que a gente tem a propor. É um processo mais colaborativo, até porque escolhemos metodologias que proporcionam maior interação. O cliente grande quer ver a entrega pronta e não tem tempo para ficar se envolvendo tanto no processo. O clima costuma ser bem bacana nesses projetos para negócios de impacto e organizações que atuam nesse ecossistema, os times se sentem muito engajados e motivados. E a liberdade criativa que temos acaba ampliando nossas possibilidades de ganhar prêmios com esses cases, como ganhamos com a própria AMAZ e Mombora, por exemplo.

Para a Future, o que esse tipo de relação agrega como experiência?

IS: Traz conhecimento sobre temas importantíssimos como mudanças climáticas, sistemas agroflorestais, economia regenerativa, ESG, economia circular, mercado de carbono, assim como profundidade em diferentes cadeias de valor como a da moda, da pecuária, do leite, do óleo de palma e do cacau. Cada projeto vira uma espécie de especialização em um assunto. E como falar de marcas a prova de futuro se não compreendermos esses temas?

Como se deu a aproximação com a AMAZ e a criação da ID da aceleradora?

IS: Já havíamos feito projetos para o Idesam, Café Apuí e Fundo Vale. Todos bem-sucedidos. Era natural sermos considerados como uma opção para desenvolver o branding da AMAZ. Foi um projeto delicioso, que fluiu super bem, a meu ver com apostas extremamente acertadas na escolha do nome e da identidade.

A Future é nossa parceira há algum tempo, o que ela tem oferecido aos negócios do portfólio da AMAZ e como avalia essa conexão?

IS: Parece mesmo uma década de parceria, mas são somente três anos. Além das oficinas, temos muitas reuniões, às vezes surge uma nova ideia ou algum novo desafio, e acredito que, nas nossas trocas, conseguimos ajudar seja trazendo insights, seja apresentando parceiros. No ano passado plugamos a AMAZ a um parceiro nosso (a extinta Decode, que agora faz parte do nosso ecossistema FutureBrand) e eles fizeram entregas bem interessantes de social listening e performance no ambiente digital para as startups da AMAZ.

Negócios com propósito, que visam gerar impactos sociais e/ou ambientais, são o futuro das marcas? Como vê o comportamento do consumidor em relação a isso e à onda ESG?

 IS: Nosso propósito é criar marcas que sejam à prova de futuro e, na minha opinião, só existirá um futuro para nós, seres humanos, se as marcas realmente se preocuparem e agirem em relação ao impacto que geram, minimizando os efeitos negativos, ampliando os positivos e estabelecendo modelos regenerativos em seus negócios. É uma mudança grande de paradigma que está em curso, e as novas gerações têm tudo para se conectarem a isso e fazerem a diferença. E espero realmente que consigam.

O consumidor em si nem sabe o que é ESG, muitos ainda engatinham para entender o que é sustentabilidade, mas existe uma nova consciência. Lembro que há uns 10 anos ouvi falar em veganismo, e naquela época uma pessoa vegana era praticamente um ET. Hoje em dia é a coisa mais normal, isso mostra como várias coisas estão mudando no comportamento. 

O consumismo desenfreado também está em cheque. Virou cafona ser superconsumista. O desapego, a roupa de brechó, agora esse tipo de coisa é cool.

São mudanças que estamos vendo de verdade, talvez ainda um pouco nichadas, mas que vão ganhar escala. A quantidade de clientes e prospects que estão surgindo com essa pauta só cresce. Sinal de mudanças boas que vêm por aí.

Tags: Sem tags

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *