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De Mendes e CBKK se associam para escalar produção de chocolates

A CBKK S/A, nova empresa com foco em investimentos que se traduzam em impactos socioeconômicos e ambientais na origem, liderada pelo empresário Stefano Arnhold (ex TecToy), anunciou acordo e associação com o chocolatier amazônida Cesar De Mendes na empresa Chocolates De Mendes.

O objetivo é escalar a produção da fábrica sediada no Pará, mirando o mercado nacional e internacional de chocolates finos e sustentáveis. A De Mendes já vinha sendo procurada por outros investidores, mas não houve a sinergia encontrada agora com a CBKK.

“Essa negociação começou mais ou menos em agosto, e a importância dessa relação passa, principalmente, pela ampliação do que a gente já faz. Vamos intensificar os impactos socioambientais, o que sempre foi um grande foco da nossa empresa. Hoje temos impacto direto em cerca de 3.500 pessoas e em 300 mil hectares de floresta. Isso nos agrada, mas ao mesmo tempo incomoda, porque há muita coisa a fazer. A Amazônia é uma região gigante. A depredação da floresta acontece numa velocidade alta, precisamos ter respostas. E a ampliação da escala de atuação da De Mendes com a chegada da CBKK ajuda nisso, ” avalia César De Mendes.

A associação traz uma meta ambiciosa: impactar diretamente 50 mil pessoas e contribuir para a conservação de pelo menos 1 milhão de hectares de floresta até 2025.

Marcello Brito, ex-Agropalma e hoje CEO da CBKK S/A, destaca que a associação é a somatória de muito conhecimento mercadológico com o conhecimento de floresta e de cacau que só o chocolatier possui.

“Depois de 25 anos de atuação no Pará e na Amazônia em geral, percebo que a Amazônia é um lugar que tem tudo mas, ao mesmo tempo, precisa resolver processos legais. No caso da De Mendes, estamos ajustando toda a parte de legislação, regularização de planta, aplicação de boas práticas de fabricação, implantação de sistemas blockchain de controle de produção e de rastreabilidade de todo o cacau, e de um sistema de cálculo de carbono para mitigarmos as emissões de toda a operação, ” define Brito.

O CEO da CBKK destaca também a intenção de escala moderada em função do perfil do negócio, uma fábrica para produção de chocolates finos. “O que nós vamos fazer é usar todas as nossas habilidades para buscar os consumidores que valorizam esse tipo de produto, no Brasil e no exterior. Se crescermos demais, já vamos ter que usar cacau plantado, e seremos só mais um produtor concorrendo com os gigantes. Queremos manter o espírito do negócio, ser o produtor de chocolate que tem essa especificidade de trabalhar com as comunidades indígenas, quilombolas e com pequenos produtores. ”

De Mendes destaca a importância do acúmulo de experiência para consolidar essa associação: “O que nós somos hoje é a somatória de tudo o que já fizemos. Ter participado do Programa de Aceleração da PPA foi excelente nesse processo. Pelas conexões, pelo conhecimento compartilhado. Foi muito importante para amadurecermos enquanto negócio, entender o nosso papel e poder nos enxergar como um negócio sustentável. ”

“Estamos muito felizes com a celebração da parceria entre De Mendes e CBKK, porque o nosso grande objetivo com o Programa de Aceleração é ajudar as startups a se desenvolverem e captarem investimentos,” declara Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam e coordenador do Programa de Aceleração da PPA. “Sem dúvida, a De Mendes está dando um passo importante na sua jornada, e temos certeza que a empresa terá um crescimento significativo na sua capacidade de geração de impacto positivo social e ambiental na Amazônia.” 

Integração de novas comunidades amazônidas

A De Mendes hoje trabalha em parceria com cerca de 32 comunidades e com cinco bases de pré-processamento de cacau. A associação com a CBKK vai permitir o trabalho com outros territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

Dentre os parceiros que em breve se integrarão ao processo estão os índios Suruí, Ashaninca e Huni Kuin (Kaxinawá). Comunidades ribeirinhas do Amapá, próximas do Mazagão, também. Por meio de parceria com as Fundações Orsa e Jari, a atuação se estenderá ao entorno do rio Jari.

De Mendes já tem relação com uma comunidade na região do Jari desde 2014, quando descobriu uma variedade de cacau inédita no local, não catalogada, que dá origem a uma das barras de chocolate produzidas hoje pela empresa.

“Essas regiões não foram escolhidas aleatoriamente. Comunidades indígenas têm nos procurado. Estamos com mais ou menos 20 comunidades indígenas no estado do Amazonas, na região do Maturacá, para visitar. Os índios têm um conhecimento muito grande da floresta e também da mobilidade em seus territórios. São excelentes parceiros na busca de cacau. Temos essa sorte de essas comunidades nos procurarem para parcerias, e com a aliança com a CBKK, conseguiremos avançar muito nesse sentido”, diz ele.

Com a pandemia da covid-19, o chocolatier trabalha no desenho e montagem de um tutorial audiovisual do treinamento do pré-processamento de cacau, que normalmente executa com as comunidades presencialmente. Haverá suporte online e, tão logo seja possível, serão programadas visitas in loco. Esse processo vai permitir a ampliação do número de comunidades assistidas.

CBKK tem metas ambiciosas para promover impacto na origem dos negócios

Composta por executivos ou empresários que em suas trajetórias foram tocados em algum momento pela Amazônia, a CBKK S/A tem entre seus membros pessoas que trabalharam em sistemas que buscavam uma escolha de sustentabilidade ambiental, social ou socioambiental.

Marcello Brito, o CEO da empresa, vem da área do agronegócio, tendo trabalhado 25 anos no Pará, e participado de diversas iniciativas multistakeholders no Brasil e no exterior.

Todos os membros da CBKK são também conselheiros da Conservação Internacional no Brasil. E dessa atuação surgiu a inquietação de atuar para impulsionar a economia da sociobiodiversidade na região.

“Colocamos um desafio à nossa frente: participar de 100 a 120 negócios de agora até dezembro de 2030. Negócios pequenos, nos quais a gente possa ter 50%, 10%, 5% de participação, ou não ter participação nenhuma, mas ser fornecedor de serviço. Ou ainda um intermediário com a filantropia. Não significa ser sócio de todos esses negócios, mas ter um link com eles, fortalecê-los, ” define Brito. Para entrar no radar da CBKK, esses negócios precisam também gerar impacto na origem, nas comunidades.

“Delimitamos uma região para isso: o bioma Amazônia, as regiões costeiras com manguezais ou investimentos ‘na água’ – por exemplo, desenvolvimento de fazendas de algas em comunidades que estejam localizadas na costa brasileira. ”

A CBKK está se associando também a uma empresa ligada a sistemas agroflorestais, com ampla experiência no Brasil e no exterior, com a expectativa de que os negócios apoiados tenham o conceito de sistema agroflorestal à sua volta.

“É um modelo ainda pouco explorado, temos muito o que aprender em termos de conhecimento, de fitossanidade, de interação radicular entre as plantas, interação nutricional. Mas esse é o futuro da agricultura moderna, ” pondera Brito. “Nada contra soja, milho, arroz,que fazem parte do processo bioeconômico. Mas o que mais podemos fazer além da bioeconomia tradicional para gerar algo diferente para a Amazônia? O tempo está correndo e estamos perdendo a guerra lá, e perdendo de sete a zero. ”

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