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É chegada a hora de um novo olhar para os negócios de impacto na Amazônia

Foto: Divulgação SBSA

Entrevista com Aline Gonçalves Videira de Souza, sócia do Escritório SBSA

Organizações e startups de impacto são relativamente novas no país, e seu funcionamento demanda um ambiente jurídico favorável, com regulação e autorregulação em processo permanente de melhorias e adequações.

O crescimento da agenda ESG no Brasil é uma oportunidade para avançar mais rapidamente e buscar maturidade do impacto nos negócios. Essa é a visão de Aline Gonçalves Videira de Souza, sócia do Escritório SBSA (Szazi, Bechara, Storto, Reicher e Figueiredo Lopes Advogados), que assessora a AMAZ desde a sua criação e também os negócios acelerados.

Atuando no mercado jurídico há duas décadas, o SBSA tem seu trabalho focado em organizações da sociedade civil, como institutos, fundações e associações; responsabilidade social corporativa, projetos de investimento social privado, negócios de impacto e ações articuladas entre os setores público e privado. Possui unidades em Curitiba, São Paulo, e uma das sócias lidera projetos direto de Tel Aviv – Israel.

Sócia para Inovação, Negócios de Impacto e ESG no escritório, Aline vê um crescimento na quantidade de negócios e startups com compromisso de gerar impacto positivo: 

“Vejo que há o surgimento de um novo segmento econômico. Nos últimos anos, temos visto a criação de fomentos institucionalizados para esse perfil de negócios, como é o caso da AMAZ – Aceleradora de Negócios de Impacto na Amazônia, os programas do BNDES Garagem para acelerar negócios de impacto e diversas outras ações que vêm sendo geradas em razão da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto, bem como de articulações do próprio ecossistema de empreendedorismo social, onde a Aliança pelo Impacto tem um protagonismo importante.”

Especificamente sobre o ecossistema de impacto da Amazônia, Aline aponta como desafios vencer a visão generalizada e simplista que ainda predomina sobre como são os negócios na região. 

“Quando falamos de Amazônia Legal, estamos diante de uma área que concentra mais da metade do território brasileiro, com muitas realidades e necessidades diferentes. Evidenciar que há portes e perfis bastante distintos de negócios na Amazônia é importante. Isso é relevante em razão da importância identitária e cultural, mas há efeitos ainda mais práticos, como é o caso de atração de investimentos e consumidores que sejam mais aderentes com a proposta daquele negócio.”

Confira a entrevista abaixo.

Como o Escritório SBSA tem trabalhado com organizações da sociedade civil e negócios de impacto?

Estamos no mercado jurídico há vinte anos, com atuação especializada em um nicho de atuação que usualmente não é vista em escritórios de advocacia. Assessoramos empresas e organizações da sociedade civil em temas de Responsabilidade Social Corporativa, Meio Ambiente e Direitos Humanos, bases da agenda ESG. Muitos de nossos clientes são fundações, associações e negócios de impacto socioambiental. Também temos uma área forte de direito público e assessoramos órgãos e projetos de interesse público. 

Somos seis sócios (maioria mulheres), com uma equipe de cerca de 30 profissionais que se dedicam a atender clientes tanto nacionais, quanto internacionais. Temos uma característica peculiar que é o nosso envolvimento direto para que o ambiente jurídico seja mais favorável às organizações e às startups de impacto. Por isso, por exemplo, tivemos uma atuação importante na formulação da Lei 9.790/99 (Lei das OSCIPs), na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU em 2006, na Lei 13.019/14 (Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil – MROSC). Mais recentemente, contribuímos na regulamentação da Lei Geral de Proteção de Dados, bem como na Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto.

Oferecemos uma atuação ampla de assessoria e representação para nossos clientes, com equipe especializada em diversas áreas do direito, incluindo tributário, trabalhista, societário, ambiental, direitos humanos, compliance, direito público, proteção intelectual, contratual, proteção de dados, contencioso, litígio estratégico, entre outras áreas de conhecimento  Apoiamos desde a estruturação inicial (com suporte para a criação de pessoas jurídicas e arranjos contratuais), passando por apoio na gestão e constante aperfeiçoamento dos projetos e iniciativas que nos são apresentados. Acreditamos que a atuação nessa área demanda um olhar especializado na legislação setorial e também a necessidade de contribuir com os debates em torno das tendências de regulação e autorregulação que estão em construção no Brasil e no mundo.

Como avalia o ecossistema de negócios de impacto no Brasil hoje?

Tem acontecido um crescimento na quantidade de negócios e startups que surgem com compromissos de gerar impacto positivo. Vejo que há o surgimento de um novo segmento econômico. Acompanhando esse fenômeno nos últimos anos, temos visto a criação de fomentos institucionalizados para esse perfil de negócios, como é o caso da AMAZe dos programas do BNDES Garagem para acelerar negócios de impacto, além de diversas outras ações que vêm sendo geradas em razão da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), bem como de articulações do próprio ecossistema de empreendedorismo social. 

Com a pandemia, ficou evidente a importância desses negócios para a solução de problemas complexos em nossa sociedade. Alinho-me com a visão do último mapeamento realizado pela Pipe Social em 2021, de que é chegada a hora de agir mais rápido e buscar mais maturidade para os modelos de negócios. Adiciono a importância do amadurecimento das teses de impacto desses negócios, para que o novo segmento econômico se consolide em bases mais sólidas. Vejo que o  crescimento da visibilidade da agenda ESG é uma oportunidade para que isso aconteça.

Como o escritório vem se especializando nesta área?

A maior escola para a nossa constante especialização é dada pelo trabalho que desenvolvemos para os nossos clientes. Destaco alguns casos públicos onde a nossa atuação foi relevante, como é o caso da Primeira Debênture Social do País, onde assessoramos o Fundo Zona Leste Sustentável na estruturação do capital filantrópico daquela operação. A criação da AMAZ; a viabilização da iniciativa do Café Apuí, dentre tantos outros programas de integridade e diversidade que implementamos junto a nossos clientes.

É também essencial participar em cursos e oportunidades de formação – seja como professores, seja como alunos. Nos últimos anos, tive a oportunidade de ser aluna nos cursos de ESG e Investimentos Responsáveis na Capital Aberto e no IBGC. Neste ano, já tenho contribuído com aulas sobre o tema das Benefit Corporations nas aulas de ESG para Conselheiras ofertado pelo IBGC e sigo contribuindo no Grupo Jurídico do Sistema B, bem como acompanhando de perto publicações e pesquisas nesta área. Minha sócia, Èrika Bechara, é comentarista para questões ambientais na CNN e semanalmente se aprofunda em questões relevantes sobre o setor. 

Destaco também a importância de participarmos de espaços coletivos de diálogo, como é o caso das comissões na OAB, o Grupo Jurídico do Sistema B, entre outros. A nossa sócia Laís Lopes, por exemplo, é presidente da Comissão de Terceiro Setor da OAB/SP.

Tanto os sócios, como parte da equipe, somos profissionais com experiência no campo da sociedade civil organizada e negócios de impacto, sendo professores pós-graduados que ministram cursos relacionados aos temas em que atuam e participam de projetos de pesquisa e de consultoria de renomadas instituições de ensino como PUC/SP, FIA/USP e FGV. 

Estamos sempre envolvidos em estudos e pesquisas nos temas que trabalhamos. Como exemplo, fiquei muito feliz por ter lançado no ano passado, uma publicação sobre a regulação no Brasil das chamadas “empresas de propósito” a pedido do PNUD/SEGIB. Em nosso site, criamos uma aba SBSA+ onde divulgamos os materiais de referência dos temas que nos dedicamos.

Quais os desafios enfrentados pelos negócios de impacto que atuam na Amazônia?

Acredito que o primeiro deles é vencer a visão generalizada e simplista, que ainda predomina, sobre o perfil dos negócios na Amazônia. Me incomoda que, por vezes, não seja reconhecida a potência que as pessoas da região têm, ou uma visão de que, com poucos ajustes, seria possível adaptar modelos de negócios das regiões sul e sudeste do país. Quando falamos de Amazônia Legal, estamos diante de uma área que concentra mais da metade do território brasileiro, com muitas realidades desafiadoras, como queimadas, desmatamento, garimpo ilegal, violação à direitos humanos. Reconhecer a realidade é muito importante para que os negócios na região possam de fato contribuir para a superação de problemas socioambientais. Por isso, acho importante evidenciar que há portes e perfis bastante distintos de negócios na Amazônia. Conheço iniciativas na área de inovação e tecnologia que desenvolvem soluções para problemas sistêmicos de logística na região que outras empresas, e até mesmo o poder público, não chegaram a se dedicar. Isso é relevante pelo valor identitário e cultural desses negócios, mas há efeitos ainda mais práticos do reconhecimento dessas peculiaridades, como é o caso de atração de investimentos e de consumidores que sejam mais aderentes com a proposta daquele negócio.

Outro desafio ainda existente é com relação à celebração de contratos justos. Por vezes, os contratos privados celebrados entre comunidades locais da Amazônia Legal (como extrativistas, quilombolas e indígenas) e empresas ou investidores corporativos são complexos, de difícil compreensão e com regras desproporcionais. 

Há oportunidade de aperfeiçoar isso a partir de metodologias que possam apoiar na celebração de contratos justos entre essas partes, já que há um contexto crescente de interesse em iniciativas ligadas à economia verde e à biodiversidade. Além disso, comunidades têm desenvolvido negócios sustentáveis com potencial de crescimento e, cada vez mais, querem a proteção dos ativos e das pessoas com que trabalham. Estamos justamente desenvolvendo um projeto para apoiar na criação de uma metodologia para a celebração de contratos justos.

Os desafios regulatórios são muitos. É preciso destravar a agenda da bioeconomia, conforme importantes estudos já apontaram, em especial sobre o Sistema Nacional de Acesso ao Patrimônio Genético e ao Conhecimento Tradicional e a repartição de benefícios. Por fim, um desafio que não é exclusivo da Amazônia, tão comum em diversas localidades do nosso país, se deve à precária infraestrutura de acesso físico e virtual que, infelizmente, ainda se apresenta como uma barreira para o desenvolvimento de tantos negócios na região.

Como avalia a parceria com a AMAZ?

É uma grande honra e satisfação ser o escritório de advocacia responsável por assessorar a AMAZ e os negócios acelerados. Trata-se de um processo de mútuo aprendizado. Cada vez mais o escritório tem buscado atuar com linguagem simples e formas não convencionais para fazer com que as questões jurídicas sejam mais acessíveis aos diferentes públicos. Além disso, esse vínculo nos estimula a produzir arranjos jurídicos inovadores, já que estamos diante de iniciativas multissetoriais que estão na vanguarda dos investimentos sustentáveis. Além da AMAZ, o escritório é parceiro institucional do Prêmio Folha Empreendedor Social, realizado pela Folha de São Paulo e a Fundação Schwab, desde 2011. É signatário de diversas causas de interesse público, como o Pacto pela Democracia e a Coalizão pelos Fundos Filantrópicos.

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Amazônia em Casa Floresta em pé abre chamada para negócios da sociobiodiversidade

Criado em junho de 2020, o movimento Amazônia em Casa, Floresta em Pé abre 2022 como uma chamada de negócios direcionada ao apoio de 20 negócios e organizações de base comunitária que atuam com produtos da sociobiodiversidade amazônica. A iniciativa, coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), pela AMAZ Aceleradora de Impacto e pela Climate Ventures, tem como objetivo otimizar a logística e ampliar a visibilidade de mercado desses empreendimentos. As inscrições vão de 14 de março a 1º de abril, por meio do link amazoniaemcasa.org.br/chamada. 

Serão selecionados negócios de impacto que comercializam produtos amazônicos e tenham compromisso com a manutenção da floresta em pé. O passo seguinte é a participação em um programa de capacitação e impulsionamento com foco em logística e comercialização. 

Para Guilherme Faleiros, analista de seleção e aceleração da AMAZ e Idesam, essa primeira chamada de negócios foi motivada pela necessidade de acesso a mercados apresentada por pequenos empreendimentos que atuam na Amazônia e que enfrentam desafios em comum de comercialização e logística de seus produtos para o principal polo comercial do Brasil, a região Sudeste. 

“Juntos, nós iremos fortalecer nosso coletivo de marcas amazônicas e a nossa comunidade de aprendizagem. Serão trocas que desenvolvem soluções inovadoras e estratégias comerciais para levar os sabores e saberes tradicionais até a casa do consumidor brasileiro, conservando a floresta e gerando renda para populações locais”, exalta Guilherme. 

Podem se inscrever negócios de impacto que já possuem produto testado no mercado e atuação na Amazônia. A projeção é, em dois anos (isto é, dois ciclos de programa), apoiar 50 empreendimentos da sociobiodiversidade amazônica que contribuam para a conservação de 25 mil hectares de floresta e a geração de renda para mais de 1 mil famílias nas regiões de atuação. A expectativa é pela redução em 50% do custo logístico das operações dessas empresas e o aumento em 100% do faturamento das marcas envolvidas. 

Coordenado por Idesam,  AMAZ e Climate Ventures o movimento tem como parceiros estratégicos e financiadores Fundo Vale, GIZ, Mercado Livre e Instituto Humanize, além de contar com uma rede de parceiros formada por CLUA, Conexsus, Origens Brasil (Imaflora), Local.e, Instituto AUÁ e Costa Brasil.

Para mais informações ou esclarecimento de dúvidas, os interessados devem entrar em contato pelo e-mail amazoniaemcasa@prosas.com.br.   

Apoio regional 

Nos últimos dois anos, 15 negócios de impacto do Norte foram apoiados por meio de ações de campanhas de marketing com influenciadores digitais, em parceria com o Mercado Livre. Segundo Guilherme, o retorno foi positivo, com os negócios registrando aumento de vendas durante a ativação destas campanhas e podendo ampliá-las para Estados onde ainda não tinham clientes. 

CEO da Manioca, um dos empreendimentos apoiados pelo AMAZ, a empresária Joanna Martins aponta a aceleradora como essencial para o desenvolvimento da marca. “Foi uma ajuda que tornou nossa gestão mais madura e que ampliou os contatos da nossa rede por todo o Brasil. E isso seja pelo fortalecimento do olhar da bioeconomia na região e negócios de impacto ou pelo acesso a financiamento, crédito e orientação para uso dessas ferramentas. De modo geral, tudo o que a AMAZ nos trouxe foi fundamental para chegarmos ao estágio que estamos, com ótimos resultados e planos de crescimento, tanto de impacto quanto de retorno financeiro”, comenta.

>> Saiba mais sobre o movimento

https://amaz.org.br/2021/09/03/da-amazonia-para-voce-campanha-aproxima-empreendedores-amazonicos-de-consumidores-de-todo-o-brasil/

https://amaz.org.br/2021/04/05/amazonia-em-casa-floresta-em-pe-se-prepara-para-nova-fase/ 

https://amaz.org.br/2021/02/26/campanha-movimentou-vendas-online-para-negocios-amazonicos-no-fim-do-ano-de-2020/

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Entrevista: Denis Minev

Foto: Rodrigo Duarte/AMAZ

Quando o assunto é Amazônia, Denis Minev, CEO da Bemol e um dos investidores e fundadores da AMAZ aceleradora de impacto, é um interlocutor com experiências variadas e que compreende o papel dos diferentes players para impulsionar o ecossistema de impacto na região.

Minev foi Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas, ocasião em que ajudou a desenhar instituições como a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) – da qual é Conselheiro – e o Museu da Amazônia (Musa). 

É também um investidor anjo que toma riscos ao selecionar parte de seu portfólio de investimento por entender que isso é parte da busca de soluções de impacto positivo para a economia da região. 

Embora reconheça que o ecossistema de impacto é ainda incipiente, Minev vê em iniciativas como a AMAZ um catalisador de negócios que podem impressionar pelo exemplo e pelo impacto positivo gerado e, assim, atrair olhares e investidores que percebam como essa nova economia pode gerar boas oportunidades. 

Nessa entrevista concedida à AMAZ, Minev destaca a importância de aproveitar a onda de atenções voltadas à floresta para alavancar um desenvolvimento mais virtuoso, que olhe para a conservação da Amazônia, mas que também traga prosperidade às suas populações. 

“Tivemos três ondas de atenção à Amazônia. Perdemos as duas primeiras, que envolveram Chico Mendes e Marina Silva. Houve queda de desmatamento, mas não aconteceu uma proporcional melhoria das condições de vida.  Nosso papel é tentar aproveitar essa terceira onda, essa mobilização global que olha para a região com interesse, e tentar traduzir isso para o que seria uma visão de prosperidade na Amazônia.”

Como você avalia o ecossistema de impacto na região amazônica?

Denis Minev (DM) Tenho ainda a sensação de que ele é incipiente, o que me incomoda. E isso não é uma crítica aos empreendedores. Meu sonho é que o próximo Guilherme Leal (Natura) seja amazônico. Não estamos nesse ponto ainda, de ter essa qualificação entre os amazônidas. Então importamos. Uma coisa que eu esperaria dessa nova geração de negócios que estão sendo acelerados pela AMAZ é que plantassem essa semente um pouco mais profunda entre os ribeirinhos, com as comunidades com as quais têm contato, de modo a inspirar esse movimento.

O Idesam e a PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia) têm trabalhado nessa frente, e eu tenho trabalhado com o Idesam há alguns anos. É extraordinário o avanço. Mas é um avanço de uma base pequena, que ainda tem muito espaço para se desenvolver. Nós não temos, por exemplo, o empreendedor ribeirinho. Meu sonho é ter esse empreendedor, que saia lá da comunidade dele e consiga adquirir ao mesmo a educação suficiente e a visão de negócio, talvez influenciado por algumas dessas startups com as quais ele pode vir a ter algum contato.

O que é preciso para esse ecossistema se desenvolver mais rapidamente?

DM Acho que não dá para ser muito rápido, porque precisamos de exemplos. E não existe nada melhor de exemplo do que uma startup que dá certo. Então é preciso esperar elas darem certo para servirem de exemplo, para demonstrarmos que negócios sustentáveis de impacto na Amazônia são um bom negócio. Enquanto a gente não tem esses exemplos numa escala razoável, acho difícil acelerar muito. Tem gente que pensa em investir, mas não investe porque não está vendo a coisa acontecer. Para mim, a AMAZ é a tentativa do exemplo, é a gente apontar e mostrar que isso aqui dá certo.

E podemos fazer um pouco mais. Nas Chamadas de Negócio da AMAZ, vamos estimulando as pessoas a pensarem e a refletirem sobre como empreender. A AMAZ vai ser realmente impactante quando pegar pelo menos duas ou três dessas startups e elas tiverem um volume de sucesso razoável. Aí muda-se o jogo.

A Amazônia hoje está no centro das atenções. Como aproveitar esse momento para potencializar o desenvolvimento de novos negócios que gerem impactos positivos?

DM Hoje todo mundo só fala de Amazônia, é intenso esse movimento. Só que a pressão internacional não é pelo desenvolvimento da Amazônia, mas para proteger a floresta. Temos que buscar formas que estanquem o desmatamento e consigam melhorar a qualidade de vida das pessoas. E estamos aqui na AMAZ para equilibrar isso. Somos pequenos, mas se cada uma dessas empresas se multiplicar por 10, vamos ampliar o impacto. 

Quando eu estava no governo do Amazonas, estava sendo criado o Fundo Amazônia. Minha sugestão para eles era criar um fundo de venture capital, ou que enviassem os melhores profissionais para cá, para desenvolvermos negócios e empreendedores. Mas eles acabaram fazendo um fundo filantrópico para conservar a floresta.

Você pode defender a floresta contra o desmatamento, mas é preciso atacar o desmatamento oferecendo alternativas. Isso é algo geracional, vamos levar pelo menos 20 anos para mudar essa chave. Essa onda de atenções para a Amazônia está ainda no começo, espero que seja longa e duradoura. 

Na Concertação Amazônica, o que a gente quer é propor como podemos rematar a Amazônia nos tornando prósperos. Negócios como Inocas, BRCarbon e Floresta S/A, por exemplo, podem se tornar cases grandes, e se isso funcionar fortalecemos essa onda. 

A AMAZ também serve como uma espécie de carimbo e abre portas para os investidores certos, que têm esses valores.

Você tem dito que estamos na terceira onda de oportunidades para mudarmos a chave de desenvolvimento da Amazônia, e que perdemos as duas primeiras…

DM Já houve ondas de atenção à Amazônia, estamos na terceira delas. A minha visão é que desperdiçamos as duas anteriores, que vieram com Chico Mendes e Marina Silva. Houve queda de desmatamento, mas não aconteceu uma proporcional melhoria das condições de vida, e aí se desperdiçam os ganhos. Acho que nosso papel é tentar aproveitar essa onda, essa mobilização global, que olha para a Amazônia com interesse, mas com um grau também de desconhecimento, e traduzir isso para o que seria uma visão de prosperidade com sustentabilidade na região. 

Isso não pode vir de fora. Alguém de fora não vai conseguir imaginar o que quer dizer prosperidade na Amazônia. Olhar para um ribeirinho que hoje tem baixa educação, baixa expectativa de vida, e pensar nessa equação em como mudar a vida dele para que não precise mais de auxílio e consiga prosperar. Isso tem que vir da gente. E acho que essa construção é o que eu espero dessa onda de atenções internacionais. Que consigamos receber recursos e atenção e traduzir isso em prosperidade. 

Os negócios de impacto são os melhores para aproveitarmos essa terceira onda. São também importantes para transformar a região e inspirar outras iniciativas. 


O que seria a prosperidade amazônica?

DM Temos 25 milhões de pessoas na Amazônia brasileira. Temos ainda as outras Amazônias, vizinhas. Não é possível criar um cercado ao redor da floresta e tentar isolar essas 25 milhões de pessoas. É preciso encontrar uma solução, que vou chamar de prosperidade. Você espera que o seu filho tenha uma vida melhor que a sua e que o seu neto tenha uma melhor do que o seu filho. Não é nenhuma solução específica, mas é um princípio que deve reger também o tema ambiental. 

Meu avô, Samuel Benchimol, que era um estudioso da região e costumava escrever muito sobre o tema, sempre disse que a Amazônia precisa ser tratada em quatro bases – economicamente viável, socialmente justa, politicamente equilibrada e ambientalmente adequada. Qualquer solução para a região teria que passar por essas quatro bases. E ele escreveu isso nos anos 1980, mas continua aplicável em 2020, e infelizmente isso ainda segue ignorado por grande parte das pessoas que interagem com a região. 


>> Leia a entrevista com Antonio Ribeiro (Move Social) e Lucas Harada (Sense-Lab)

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Amaz promove primeira oficina presencial com negócios selecionados em 2021

Foto: Rodrigo Duarte/AMAZ

Todos os participantes estavam vacinados e devidamente testados contra a covid-19

Entre os dias 8 e 10 de março, empreendedoras e empreendedores dos seis negócios selecionados pela AMAZ em 2021 – BRCarbon, Floresta S/A, Inocas, Mahta, SoulBrasil Cuisine e Vivalá – participaram da primeira oficina presencial da jornada de aceleração, que aconteceu em Manaus, às margens do Rio Negro.

O encontro, facilitado pelo Sense-Lab, abordou OKRs (objetivos e resultados-chave), gestão de impacto socioambiental e estrutura e governança. 

As conexões marcaram os três dias. Artur Coimbra e Joanna Martins, fundadores de dois negócios do portfólio da AMAZ – Na’kau/Na Floresta e Manioca – relataram experiências, desafios e oportunidades de empreender na Amazônia e participaram de rodas de conversa com o grupo. 

Marcus Biazatti, do Idesam, conversou com os empreendedores e empreendedoras sobre a marca coletiva Inatú, que comercializa óleos essenciais produzidos por comunidades amazônicas e também trabalha com manejo sustentável de madeira. 

Foram apresentados resultados, impacto positivo gerado, metodologias de monitoramento, as nuances do relacionamento com comunidades e cadeias produtivas, empreendedorismo florestal, gestão de negócios e mercados.

Conectar empreendedores e empreendedoras com outros negócios de impacto já em atuação na Amazônia é uma das ofertas da jornada de aceleração, proporcionando trocas que podem encurtar a solução de problemas a partir de experiências similares anteriores. Além disso, as conexões têm potencial para gerar parcerias entre eles, seja no compartilhamento de experiências ou em estratégias de mercado. 

Investidores presentes

Foto: Rodrigo Duarte/AMAZ

Outra conexão proporcionada durante o encontro envolveu alguns investidores da AMAZ com atuação na Amazônia. 

Em uma roda de conversa com os negócios, Denis Minev, Ilana Minev, Marcelo Forma, Mariana Barella e Matheus Faria participaram de um diálogo franco e aberto, abordando temas como atual estágio do ecossistema de negócios de impacto na Amazônia, a importância de oferecer alternativas ao desmatamento que integrem as populações da região, a necessidade de se investir em pesquisa e desenvolvimento para alavancar uma nova economia na região e de envolver a academia.

O grupo destacou ainda a importância de perceber que há diferentes Amazônias, que requerem diferentes soluções, e por isso não há um caminho que vá ser comum a todos. A importância das novas gerações no desenho de uma nova economia amazônica e também de encontrar os investidores ‘certos’ para alavancar os negócios de impacto. 

Outro ponto abordado diz respeito ao perfil dos investidores e o que eles esperam das startups.

Para Daniel Cabrera, da Vivalá, os pontos altos da oficina foram o aprofundamento no alinhamento estratégico e avançar naquilo que foi construído no encontro de pré-aceleração, em novembro de 2021, além da revisão dos indicadores de impacto. Ele destaca também a conexão com investidores e negócios amazônicos: 

“A integração junto com os investidores da AMAZ, que são pessoas, essas que a gente conheceu, majoritariamente do norte, foi muito importante para que a gente se aproxime de atores relevantes da região, pessoas que estão diretamente no setor privado, gerando impacto. Além da integração com todos os outros empreendedores, que mesmo atuando em mercados muito diferentes contribuem de uma maneira muito rica com suas visões, suas experiências, e essa troca é extremamente relevante.”

“O ponto alto é justamente o encontro, o convívio entre esse grupo. E especificamente duas coisas para mim são muito valiosas. Uma foi o encontro com os investidores da região, e a outra coisa é o trabalho com o modelo de impacto, que acho que precisamos ainda aprofundar mais,” avalia Maximiliano Petrucci, da Mahta.

Para Letícia Feddersen, da SoulBrasil Cuisine, as conexões e vivências com os outros participantes da aceleração têm sido ricas e trazido bastante aprendizado, em especial nas questões de gestão e de pensar o impacto que pode ser gerado. Ela destaca também a conexão com outros negócios que atuam na Amazônia e com os investidores:

“Com o encontro com os investidores e outros negócios da região me senti como se estivesse passando por um “MBA” na cultura, na vivência e sobre os negócios da Amazônia. A conexão com outros negócios da região é muito rica, e vai além da aceleração, gerando trocas, sinergias até de possíveis parcerias comerciais”

>> Leia entrevista com Denis Minev

>> Conheça os seis negócios que participam dessa jornada de aceleração 

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AMAZ inicia aceleração dos seis novos negócios de impacto de seu portfólio

Foto: Andre Deak | Flickr

A jornada de aceleração dos seis negócios selecionados em 2021 para compor seu portfólio e receber investimento começa agora.

Durante o mês de janeiro, o time da AMAZ trabalhou com os empreendedores e empreendedoras no diagnóstico de suas necessidades para crescer e atingir escala, e a partir desse diagnóstico foi traçada a estratégia de aceleração.

Há demandas em comum e também necessidades muito particulares, e um dos grandes desafios é justamente oferecer às startups uma jornada de aprendizado e construção conjunta, associada  a assessorias e mentorias  customizadas para superar os desafios de crescimento de cada um.

A jornada de aceleração oferecida pela AMAZ tem o diferencial de oferecer soluções ‘à la carte’, customizadas para atender de fato às necessidades dos empreendedores e empreendedoras que atuam na região Amazônica.

Desse modo, o desenho do programa é variável a cada turma selecionada, buscando trabalhar diretamente nas questões diagnosticadas como fundamentais para o crescimento de cada negócio.

“Um dos maiores diferenciais da AMAZ é desenhar a aceleração de modo a atender as demandas reais dos negócios em vez de oferecer pacotes prontos. O time atua em parceria com os empreendedores e potencializa a troca de experiências e conexões entre eles agregando valor e buscando soluções inovadoras para as dores do grupo”, avalia Mariano Cenamo, CEO da AMAZ.

Encontros presenciais e assessorias começam nos próximos meses

A jornada de aceleração proposta pela AMAZ prevê duas oficinas presenciais, preparadas com todo o cuidado e em acordo com a situação sanitária trazida pela covid-19. O primeiro deles acontece em março.

Até lá, empreendedores e empreendedoras seguem trabalhando com o time da AMAZ em questões individuais e preparatórias para a primeira oficina presencial. A segunda oficina está inicialmente prevista para o mês de maio.

O acompanhamento dos especialistas da AMAZ será constante, em uma parceria que visa impulsionar os negócios e ajudá-los a crescer.

“Nosso time já está trabalhando com esses negócios de forma personalizada, vamos apoiá-los no refinamento do plano estratégico, plano de ação e teoria da mudança nesta primeira etapa. Durante toda jornada, nossos especialistas e parceiros terão como missão gerar valor, apoiar a gestão e abrir caminhos para as startups apoiadas, buscando alavancar seus resultados e impactos positivos na conservação da Amazônia”, analisa Ana Carolina Bastida, responsável pela gestão de investimentos e aceleração da AMAZ.

Para acompanhar o processo de aceleração dessa turma, fique de olho nas nossas redes!

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AMAZ seleciona 06 negócios inovadores para seu portfólio em 2022

Foto: Pré-aceleração da AMAZ (Obs.: todos os participantes estavam testados e imunizados contra a Covid-19)

Seis negócios de impacto com atuação na Amazônia Legal receberão investimentos da aceleradora

A AMAZ aceleradora de impacto concluiu o processo de seleção dos negócios que serão acelerados e investidos em 2022. 

Os seis negócios atuam com soluções inovadoras para o desenvolvimento de produtos e serviços em cadeias de valor estratégicas para a conservação da Amazônia em áreas como reflorestamento, projetos de carbono e conservação florestal, produção de óleos, alimentação e turismo de base comunitária. 

Os selecionados foram BrCarbon, Floresta S.A., Inocas, Mahta, Soul Brasil e Vivalá. Os negócios têm atuação nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.

Os seis passarão por um processo de aceleração em 2022 e receberão investimento inicial de R$ 200 mil, havendo possibilidade de reinvestimento (follow) de outros R$ 400 mil ao final do processo. O grupo foi selecionado dentre 156 negócios inscritos na Chamada 2021 promovida pela AMAZ. 

“Ficamos muito impressionados com a qualidade dos negócios, a escala de impacto que podemos alcançar, e o potencial de construir na prática uma nova economia aliada à conservação florestal na Amazônia.”, avalia Mariano Cenamo, CEO da AMAZ.

O  potencial de impacto aproximado dos seis negócios selecionados, entre cinco e dez anos, inclui mais de um milhão de hectares de florestas preservados, mais de 700 mil toneladas de emissão de carbono evitadas anualmente, 3.700 hectares de florestas recuperadas, centenas de famílias beneficiadas e injeção de cerca de R$ 30 milhões em comunidades locais.

Conheça os negócios

BrCarbon = Climate Tech Brasileira voltada à conservação florestal e restauração ecológica especializada em projetos de carbono.  Com equipe altamente qualificada,  utiliza estratégias inovadoras e tecnologia de ponta para acelerar, multiplicar e consolidar projetos de carbono e gestão florestal no Brasil.

Floresta S.A. = Implanta modelos regenerativos de produção agroflorestal em escala, com um portfólio de 10 culturas agrícolas e madeireiras. Além de produtos da bioeconomia, traz ao mercado financeiro oportunidade de investimento direto em agrofloresta na Amazônia, com rentabilidade alvo de 17% ao ano. 

Inocas = Tem como objetivo gerar uma alternativa ao óleo de soja e palma, alavancando a cadeia produtiva da macaúba como fonte de óleos vegetais sustentáveis. O piloto da companhia está localizado na região do bioma cerrado no Alto Paranaíba, em MG, e terá implementado, até o final de 2021, o plantio de 2.000 hectares de macaúba em sistema agrossilvipastoril em parceria com agricultores familiares. Com a entrada na AMAZ, a empresa expandirá sua atuação para a Amazônia Legal em 2022. 

Mahta = Foodtech que atua na área de suplementos alimentares produzidos com ingredientes predominantemente provenientes de comunidades amazônicas. Objetiva gerar inovação e valor, além de reduzir os impactos ambientais negativos, por meio de cadeias produtivas com a participação de comunidades locais, modelo que pode ser replicado para uma mudança sistêmica na indústria alimentícia. Simultaneamente, entregará valor nutricional diferenciado aos consumidores, impulsionando a conservação e regeneração da Amazônia.

Soul Brasil Cuisine = Tem como missão apresentar produtos com ingredientes da biodiversidade brasileira – especialmente a amazônica – sustentáveis, orgânicos, veganos e livres de substâncias artificiais para o Brasil e o mundo. Está no mercado há quase três anos, presente principalmente em empórios e supermercados do eixo Rio e São Paulo, além de exportar para Estados Unidos e Europa. Os produtos têm certificação orgânica.

Vivalá = Realiza expedições em Unidades de Conservação brasileiras por meio do turismo de base comunitária. Promove o desenvolvimento socioambiental do país de modo inovador, unindo em expedições vivências com comunidades e natureza. Já engajou mais de 900 viajantes de 10 países e injetou R$ 627 mil diretamente em comunidades tradicionais pela compra de serviços de base comunitária. 

Sobre o processo de seleção

A Chamada 2021 promovida pela aceleradora recebeu 156 inscrições, das quais 12 foram selecionadas para participar de um processo de pré-aceleração que aconteceu em novembro, a partir de um encontro presencial em Presidente Figueiredo, no Amazonas.

Empreendedores e empreendedoras trabalharam na metodologia do Modelo C, buscando entender melhor o funcionamento de seus negócios e os impactos positivos que geram ou são capazes de gerar, além de refletirem sobre como podem melhorar tanto seus modelos de negócio como indicadores e narrativas de impacto que podem agregar ainda mais valor a eles. 

A imersão proporcionou muita troca e conexão, e o grupo construiu seus próprios modelos de negócio e matriz de impactos positivos, ao mesmo tempo em que generosamente contribuiu para a construção dos modelos de outros negócios. 

O desempenho dos negócios no processo de pré-aceleração, juntamente com diligências realizadas pelo time da AMAZ para conhecer melhor a atuação de cada um deles e a realização de pitchs em dezembro, com participação de investidores e parceiros, foram os fatores que determinaram a escolha.

Sobre a AMAZ

A AMAZ aceleradora de impacto é coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), e conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.  

Tem como fundadores e parceiros estratégicos Fundo Vale, Instituto humanize, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation, Fundo JBS pela Amazônia e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados. 

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Modelo C, aplicado na pré-aceleração da AMAZ, estimula que negócio e impacto sejam pensados conjuntamente

Foto: Antonio Ribeiro (Move Social) e Lucas Harada (Sense-Lab) durante a pré-aceleração da AMAZ | por Rodrigo Duarte – Odara Audiovisual

O Modelo C, metodologia utilizada na pré-aceleração da AMAZ, foi criado em parceria entre o Sense-Lab e a Move Social, com apoio do ICE e da Fundação Grupo Boticário. A partir de duas ferramentas que têm sido utilizadas para modelar negócios de impacto socioambiental – Business Model Canvas e Teoria de Mudança -, o Modelo C propõe uma abordagem que respeita, valoriza e se nutre das duas com o propósito de contribuir para amadurecer negócios de impacto, orientando e estimulando que o negócio e o impacto sejam pensados conjuntamente. 

Lançada em 2018, a ferramenta vem sendo aplicada em diversos processos de aceleração e formação, de diferentes perfis. Segundo levantamento realizado pelo Sense-Lab em novembro deste ano, já foram realizados 3.723 downloads do Guia do Modelo C, incluindo 24 estados brasileiros e 11 países. A ferramenta tem sido também objeto de estudos acadêmicos. 

O Modelo C foi utilizado pelo Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da PPA, coordenado pelo Idesam e que evoluiu para a aceleradora independente AMAZ, que conclui em dezembro deste ano a seleção de sua primeira Chamada de Negócios. 

A última etapa do processo de seleção da AMAZ é a pré-aceleração, que aconteceu durante o mês de novembro a partir de um encontro presencial entre os empreendedores e empreendedoras finalistas em Presidente Figueiredo, no Amazonas. Durante um workshop de quatro dias, o Modelo C foi apresentado ao grupo de 12 negócios finalistas, que trabalhou nele em escala individual, com aplicação em seu próprio negócio, e coletiva, ao conhecer os outros empreendedores e se abrir a sugestões trazidas por eles a partir do desenho dos modelos de cada um.

A AMAZ conversou com Antonio Ribeiro, da Move Social, e Lucas Harada, do Sense-Lab, que facilitaram a aplicação do Modelo C junto ao grupo. Nessa entrevista, a dupla faz uma avaliação da ferramenta, sua aplicação junto a negócios com atuação no ecossistema amazônico e destaca ajustes que aos poucos vão se mostrando necessários desde a criação do Modelo C a partir da prática. 

De onde veio o estalo para criar o Modelo C?

Antonio Ribeiro (AR): As duas organizações, Move Social e Sense-Lab, têm a prática de trabalhar com negócios de impacto e de diferentes maneiras. E as duas já vinham se deparando com limitações de algumas abordagens e ferramentas. O Sense-Lab em relação ao Business Model Canvas e a Move em relação à Teoria de Mudança. Quando a gente sentava com um negócio de impacto e começava a pensar a Teoria de Mudança, percebíamos que ela não dava conta sozinha. Testamos algumas coisas e chegamos ao Canvas, que também não dava conta. Começamos a trocar ideias e veio um movimento de esboçar alguma coisa em conjunto. O que sabíamos de antemão é que não podia vir da nossa cabeça, porque não estávamos no campo, não estávamos liderando empreendimentos daquele tipo. Então seria preciso envolver de alguma maneira esses outros atores que estavam no campo.

Lucas Harada (LH): No Sense-Lab, estávamos trabalhando com programas próprios de aceleração e negócios de impacto. E ali a gente travava muito, porque olhar para impacto é olhar para toda uma questão de intencionalidade, ver no que a pessoa acredita, sua visão de mundo, enfim. É preciso uma descida tão grande que não é possível representar num modelo de negócios que traz só a proposta de valor, que é o Business Model Canvas. Criamos um Business Model mais voltado para impacto, mas percebemos que ainda não trazia o que era preciso. Porque a gente vivenciava com o empreendedor toda a jornada de impacto e o modelo não refletia isso. Não me lembro exatamente como foi a aproximação do Sense-Lab e da Move Social, mas o ICE foi um bom intermediador, me lembro de boas provocações dele. 

AR: O ICE tem um papel muito interessante, de instigar, trazer referências, e também na indicação da Fundação Grupo Boticário como apoiador. E teve toda uma construção envolvendo vários atores. O Modelo C tem coisas que a Teoria de Mudança não tem e que o Canvas também não, mas essencialmente é um instrumento que parte dessas duas ferramentas, que são já muito bem conhecidas. E isso dá uma legitimidade. 

Desde a criação do Modelo C, qual o balanço que vocês fazem sobre a implementação nos processos de aceleração em que têm trabalhado e os impactos?

AR: A aceitação e o uso têm sido bons. Tem uma diversidade grande de organizações usando, e até tese de mestrado sobre o Modelo C. A principal potência do Modelo C são as perguntas que ele traz para as pessoas. É uma ferramenta que não tem direito autoral, aberta para as pessoas usarem. O que percebemos nesse tempo todo é que quanto melhor é o apoio, a facilitação, melhor o Modelo C funciona. Já fizemos processos de disponibilizar o modelo para as pessoas preencherem e na sequência marcarmos uma reunião de duas horas, mas isso não tem funcionado bem para todo mundo. É um instrumento que ganha com facilitação, apoio e tempo. E o tempo tem nos mostrado também que está chegando a hora de fazer uma revisão. Seja para mudar os nomes nas caixinhas, seja para incluir o indivíduo. Ainda não temos consenso sobre isso, mas defendo que a gente precisa entrar com uma outra dimensão, que é a do indivíduo.

LH: O Modelo C, nesse formato que estamos aplicando com a AMAZ, na pré-aceleração, funciona muito bem. É um bom diagnóstico, um bom lugar de perguntas iniciais, um norte para se perceber o quanto se tem de clareza em relação ao negócio. E depois como ele se desdobra para um plano de desenvolvimento de ação. Mas o que eu sempre ouço é que, por mais que a gente tente envolver muitas organizações, muitas visões, ele ainda traz alguns formatos e nomenclaturas que geram dúvida. E também temos desafios na aplicação para modelos de negócios comunitários ou que têm menos essa pegada de empreendedor, de startup, são mais coletivos. 

A AMAZ está experimentando o Modelo C na pré-aceleração dos negócios, e antes, quando atuávamos como um programa no âmbito da PPA, a aplicação se dava com os negócios já em aceleração. É uma mudança de formato trazida pela nossa experiência para a AMAZ. Como vocês analisam isso? 

AR: Quando veio essa demanda da AMAZ, de incluir o Modelo C na pré-aceleração, analisamos que era muito pertinente. Já tínhamos usado o modelo como diagnóstico de negócios em 2020. Em dois ou três dias não conseguimos sair com um Modelo C super redondo. Temos qualificado, melhorado os passos que damos para que os negócios saiam com um modelo o mais redondo possível, mas não é tempo suficiente para saírem com tudo finalizado. Chegar ao fim de um processo de facilitação com o Modelo C pronto não é o ponto de chegada. O processo de reflexão dos empreendedores já mostra o momento em que estão em seus negócios, quais as fraquezas e forças. Muitas vezes tem gente que nunca pensou sobre impacto. E impacto pode ser pensado em diferentes níveis, em curto, médio e longo prazo, e uma coisa depende da outra. Colocar isso em caixinhas do Modelo C, bem, isso às vezes começa na oficina, mas leva um tempo. Então usar esse momento como diagnóstico é muito bom, e ser na pré-aceleração faz muito sentido para nós. Tanto para ajudar os empreendedores a saírem com bons modelos, que podem ser úteis para qualquer passo daqui em diante, sendo ou não selecionados para a aceleração da AMAZ, mas que também ajude a entender a maturidade dos negócios e das suas lideranças, a qualificar melhor o olhar para decidir quem fica e quem sai. 

LH: Tenho a mesma visão. O Modelo C é um bom processo como visão de diagnóstico. Ele também ajuda a trabalhar conceitos e contexto, porque negócio de impacto não é um tema bem difundido em todas as regiões do país. Então, quando estamos em uma região que está construindo um ecossistema, como é o caso da Amazônia, e às vezes a chamada de negócios traz alguns empreendedores que não estão familiarizados com esse universo, é importante ter um momento para sintonizar todo mundo. A aplicação do modelo na pré-aceleração tem um valor enorme para os negócios olharem para o seu impacto, descreverem indicadores, enfim. É um ganho muito bom, porque mesmo que essa organização não vá para a aceleração, pode aproveitar toda essa experiência para entrar em outras rodadas com parceiros e investidores. Sem falar na troca que esse processo promove, que talvez seja o mais rico disso tudo. O benefício não é só para as empresas que serão selecionadas, mas para todas as finalistas. 

AR: Essa troca que o Lucas mencionou é muito importante, e o Modelo C ajuda também nisso. Claro que ele pode ser aplicado como uma ferramenta apenas focada no negócio de cada um, o empreendedor senta e faz sozinho. Mas o modelo facilita também um processo coletivo. Cada um constrói o seu, mas vamos trocar? Colocar pessoas de diferentes lugares, com diferentes bagagens, para ouvir sobre os negócios e trazer sugestões? Isso é bem potente, e acontecer em uma pré-aceleração gera valor para todo mundo. Ajuda todo mundo a melhorar suas narrativas e o olhar para seus negócios. 

Que impressões vocês têm desse ecossistema em desenvolvimento na Amazônia e da aplicação do Modelo C em específico?

LH: Acho que o desenvolvimento desse ecossistema da forma como está acontecendo tem um valor muito grande. Temos uma conversa dentro do Sense-Lab que é sobre a serviço de quê estão os programas de aceleração. Porque isso diz muito sobre o potencial de um programa de aceleração. Quando você tem um programa que chama os negócios e diz que vai acelerá-los e que eles vão resolver problemas, vejo muitos limites e pouca conexão com a realidade dos negócios. E aqui, primeiro com o Programa de Aceleração da PPA e agora com a AMAZ, nos dois casos sob a coordenação do Idesam, vejo um crescimento muito significativo no fortalecimento desse ecossistema. Porque quando um programa sai da aceleração em si e amplia o olhar para resolver problemas comuns, como a logística, e traz parceiros e promove interação, avança no fortalecimento do ecossistema de fato. E isso é fundamental quando se quer trabalhar a economia local e envolver esses atores. E por isso eu acho que esse trabalho é muito reconhecido. Um valor que todo esse processo traz também é o investimento e o olhar para a Amazônia para além dos negócios. Traz atores muito diversos, e isso começa a ganhar força e a chamar a atenção. Colocar a Amazônia em evidência é uma coisa que várias organizações estão fazendo. Mas o Idesam, com a AMAZ e também desde o programa da PPA, conseguiu trazer uma visibilidade muito boa a tudo isso que vem sendo realizado.

AR: O Idesam entendeu há muitos anos que transformar a realidade da Amazônia não ia acontecer se não fosse coletivamente. Como algumas outras organizações que trabalham na Amazônia. Quando o Idesam, via PPA, cria o Programa de Aceleração, já existia ali essa premissa de que não se mudaria essa realidade senão juntando esforços. E a AMAZ segue, por ter o Idesam na sua gênese, em sua ancestralidade, essa premissa. De fazer junto, com diferentes setores, sejam atores que estão fazendo e pensando negócios, mas também investidores de perfis diversificados. 

Vocês mencionaram que em algum momento seria importante fazer revisões no Modelo C. Desse acúmulo todo, quais são as dores que ativam essa visão?

AR: São incômodos que a gente vem percebendo nas oficinas e nos processos. Em alguns casos já temos feito trocas e aplicado novas coisas. Precisamos fazer com que o Guia do Modelo C disponível para download também reflita isso. As perguntas do contexto, dos problemas, talvez também possam mudar. E há necessidade de ter uma caixinha para o indivíduo, que é sobre princípios, premissas, que tem a ver com o jeito de fazer daquele negócio, porque hoje não há espaço no modelo que capte o que provoca essas coisas. 

LH: Tem um outro ponto. Ter o frame ali e saber o que significa cada coisa não diz sobre como levar para uma aplicação, para o dia a dia. O guia mais explica o que é do que leva para a prática. E as mudanças para o Modelo C têm a ver com como se vivencia aquele experimento. A forma como a gente trabalha já é diferente desde quando lançamos o guia. E para mim tem um grande incômodo, que é na abordagem da capacidade organizacional. Falta o como fazer, que entra no aspecto de indivíduo, como Antônio falou, mas também numa questão de governança. Dá para ser mais provocativo em relação a isso. AR: Este ano, pela primeira vez, estamos testando alguns adicionais ao modelo, trazendo um instrumento para que os empreendedores façam uma autoavaliação depois de vivenciar o Modelo C. O quanto eles conhecem do contexto, o quanto perceberam preenchendo o modelo e refletindo sobre tudo isso. O empreendedor já sai com a percepção de como está, quais são os déficits, onde precisa buscar informações, o que precisa fazer para suprir o que está falho. Ele monta um gráfico aranha com as pontuações e vai perceber como está o seu desempenho no Modelo C. Estamos testando isso aqui pela primeira vez com a AMAZ. E tem uma coisa que pensamos lá no início, de criar um site, uma espécie de fórum, onde as pessoas poderiam colocar suas experiências. Tem muita coisa sendo feita, e seria interessante pegar essas experiências e compartilhar, ter talvez um banco de Modelos C.

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AMAZ conclui processo de pré-aceleração dos 12 negócios finalistas e anunciará selecionados em dezembro

Foto: Rodrigo Duarte | Odara Audiovisual

** Empreendedores, empreendedoras, equipe da AMAZ e facilitadores estavam imunizados e foram devidamente testados, com todos os cuidados sanitários necessários na pandemia da covid-19. Boa parte das atividades foi realizada em espaços abertos.

Entre os dias 8 e 11 de novembro, empreendedores e empreendedoras dos 12 negócios selecionados pela AMAZ para a pré-aceleração estiveram reunidos em Presidente Figueiredo, no Amazonas, para a construção de Modelos C.  Foi um momento de olhar para os seus próprios negócios, mas também de conhecer os outros finalistas e estabelecer conexões com eles. 

A facilitação do processo ficou a cargo de Antonio Ribeiro (Move Social) e Lucas Harada (Sense-Lab), que explicaram a dinâmica do Modelo C, os conceitos que ele traz e orientaram os negócios em uma oficina prática de elaboração. 

Durante os quatro dias, empreendedores e empreendedoras ficaram mergulhados no entendimento e uso da ferramenta, buscando entender melhor o funcionamento de seus negócios e os impactos positivos que geram ou são capazes de gerar, além de refletirem sobre como podem melhorar tanto seus modelos de negócio como indicadores e narrativas de impacto que podem agregar ainda mais valor a eles. 

“Foi muito especial poder encontrar com todos os empreendedores e empreendedoras pessoalmente depois de um período de isolamento tão grande. Se fala que a vida do empreendedor é muito solitária, e especialmente num momento de pandemia. Nós sentimos um poder muito grande entre as trocas e os aprendizados que eles puderam ter nesses dias. Para nós da AMAZ, foi também um momento muito importante, porque tivemos a oportunidade de conhecer cada negócio e cada empreendedor de forma mais sensível e profunda”, avalia Mariano Cenamo, gerente de novos negócios do Idesam e CEO da AMAZ.

Os quatro dias de imersão proporcionaram muita troca e conexão, em que os empreendedores construíram seus próprios modelos de negócio e matriz de impactos positivos, ao mesmo tempo em que generosamente contribuíram para a construção dos modelos dos outros negócios e recebiam a colaboração para o desenvolvimento dos seus próprios modelos. 

Essa construção, individual e coletiva, trouxe uma conexão bastante significativa entre negócios que, embora diversos entre si, guardam muitas similaridades sobre o atuar na Amazônia. 

“Essa troca realmente é muito rica. Ouvir o passo a passo de cada uma das iniciativas, que têm suas diferenças, mas ao mesmo tempo suas similaridades, faz com que a gente aprenda muito”, diz Daniel Cabrera, da Vivalá, negócio que realiza expedições em Unidades de Conservação brasileiras por meio do turismo de base comunitária. 

Maria Elisa Ribeiro, da Aromas da Amazônia – que tem como principal objetivo atender demandas e serviços no segmento do agronegócio com foco nas tecnologias de baixo carbono -, destaca a importância da imersão para entender melhor seu negócio: “Descobrimos questões do nosso negócio que não tínhamos sequer imaginado a partir dessa imersão e dessa oficina. Era isso que faltava para a gente se consolidar e se entender melhor enquanto negócio”. 

Edgard Calfat, da Mahta – foodtech que atua na área de suplementos alimentares produzidos com ingredientes predominantemente provenientes de comunidades amazônicas -, se surpreendeu com a conexão estabelecida: “Fomos surpreendidos com a qualidade das pessoas, com a preparação delas, essa metodologia e a riqueza das trocas”.

“A metodologia aplicada ajuda a gente a ter clareza do impacto que o nosso impacto gera. A olhar para o nosso projeto e a comunicá-lo de uma maneira mais eficiente”, avalia Thiago Campos, da Floresta S.A., que trabalha com modelos regenerativos em escala, com portfólio de dez culturas agrícolas e madeireiras. 

“Com essa oficina, vamos ter um plano de negócios mais moderno, com alguns objetivos que já estamos traçando para o futuro”, diz José Lima, da Coopercintra, cooperativa do Acre que atua na exploração e comercialização de produtos florestais não madeireiros.

“Os empreendedores já estão muito prontos, com poucos pontos a aprimorar em modelo de negócio e impacto, coisas que podem aprender juntos, dentro de suas diferenças e potencialidades. Manter essa troca entre eles, de modo que consigam se potencializar e avançar nos seus modelos de negócio e gerar impacto para a Amazônia no final do dia, é muito importante”, analisa Ana Carolina Bastida, gerente de investimentos e aceleração da AMAZ.

Próximos passos

O desempenho no processo de pré-aceleração, juntamente com os resultados das visitas realizadas pelas equipes da AMAZ aos negócios – nas quais foi possível perceber in loco o modo de atuação de cada um e também analisar finanças, governança e gerenciamento dos empreendimentos – serão levados em consideração no momento de escolher os seis negócios que serão acelerados e receberão investimento em 2022.

Em dezembro, nos dias 14 e 15, os empreendedores participam de um Demoday, apresentando seus negócios a investidores e parceiros da AMAZ, que será também decisivo para a escolha. Os resultados serão anunciados na sequência.

Os seis negócios escolhidos participarão de um processo de aceleração, receberão investimento inicial de R$ 200 mil, podendo ser reinvestidos em até R$ 400 mil. Passam também a integrar o portfólio da AMAZ. 

A AMAZ aceleradora de impacto é coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), e conta com um fundo de financiamento híbrido (“blended finance”) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.  

Tem como fundadores Fundo Vale, Instituto humanize, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation e Fundo JBS pela Amazônia. Tem como parceiros estratégicos a PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia) e a GIZ (Agência Alemã de Cooperação), e conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados. 

Conheça os 12 negócios que participaram do processo de pré-aceleração

Leia entrevista como Antonio Ribeiro e Lucas Harada sobre o Modelo C

Da Tribu

Manioca, Peabiru e Da Tribu participam do Fórum Mundial de Bioeconomia, e Chocolates De Mendes ganha prêmio de startup do ano

Foto: acervo Da Tribu

Em outubro, a cidade de Belém, capital do Pará, sediou o Fórum Mundial de Bioeconomia, que pela primeira vez foi realizado fora da Europa. 

A agenda do evento foi definida em quatro eixos temáticos: bioeconomia, líderes globais e o mundo financeiro, bioprodutos ao nosso redor e um olhar para o futuro. 

Lideranças, especialistas e executivos de grandes empresas, do Brasil e do exterior, estiveram presentes, envolvidos no debate sobre caminhos para o desenvolvimento da bioeconomia. 

Participaram do evento três negócios já acelerados e integrantes portfólio da AMAZ: Manioca, Peabiru Produtos da Floresta e Da Tribu – que integrou um painel do Fórum de Negócios da Sociobiodiversidade da Amazônia, promovido pelo Ateliê de Negócios Transformadores da Amazônia (ATENTA) com o governo do Pará e apoio do Impacta Mais. 

O evento, que integrou a programação do Fórum Mundial da Biodiversidade, promoveu seis painéis de discussão, contemplando as cadeias do açaí, cacau, oleaginosas, design, artesanato, biocosméticos, fármacos, gastronomia e moda.

“O Fórum tem a importância de nos possibilitar discutir e olhar especificamente para essa bioeconomia que é feita na Amazônia. Que é diferente. Estamos em um país de vários abismos sociais, e a bioeconomia olha para o desenvolvimento socioambiental, não só para o meio ambiente”, avalia Tainah Fagundes, diretora criativa da Da Tribu. 

Durante o Fórum, foi realizada também uma feira reunindo negócios e iniciativas da bioeconomia, na qual a Da Tribu participou com um estande com acessórios de moda e biomateriais. “A feira realizada foi um sucesso, trouxe reconhecimento local, nacional e internacional, boas vendas, admiração à qualidade do nosso produto e do nosso fazer. Tivemos boas vendas no varejo e articulações para venda de biomateriais.”

A diretora criativa da Da Tribu destaca ainda a expectativa de reverberações a partir do Fórum, como o espaço de diálogo com o governo estadual e os contatos realizados durante o evento. 

Foto: acervo Manioca

Conhecendo novos negócios e expectativas de mais investimento

A Manioca participou da feira com estande próprio, apresentando seus produtos da gastronomia amazônica, e destaca a oportunidade de conhecer novos negócios da bioeconomia. 

“Participar da feira foi muito bom porque nos colocou do lado de empreendimentos que ainda não conhecíamos, de outras regiões do Pará ou da Amazônia. Novas organizações e novos produtos que também nos inspiram e que de alguma maneira nos ajudam a fazer o nosso trabalho, porque aumenta o coro, a quantidade de pessoas e empresas que estão falando sobre o mesmo tema e ajudam o consumidor e o público em geral a perceberem a bioeconomia”, avalia Paulo Reis, sócio-diretor da Manioca. 

A participação marcou também o retorno da Manioca às feiras presenciais, praticamente suspensas desde o início da pandemia. 

Outro ponto positivo destacado por Paulo em relação ao Fórum foi o posicionamento de que o estado do Pará está assumindo a bioeconomia como proposta de desenvolvimento da região. 

“Foi muito bom ter recebido o Fórum em nossa cidade. Belém e Manaus são símbolos da bioeconomia, porque são as cidades centrais da Amazônia. Então é muito bom que tenhamos trazido essa discussão para perto da gente. Ficamos com a expectativa de que o tema vai começar a ferver mais, de que o estado vai começar a olhar mais para esse tema, com possibilidade maior de apoios. De repente vamos ter mais feiras, fóruns, discussões, e atraindo mais atenção para isso naturalmente o nosso próprio trabalho vai atrair também mais olhares.”

Foto: Acervo Peabiru Produtos da Floresta

Mariana Faro, coordenadora de comunicação da Peabiru Produtos da Floresta, destaca a participação na feira do Fórum como significativa para a empresa e seu propósito de conectar a produção de povos e comunidades tradicionais da Amazônia com consumidores que buscam apoiar a conservação da floresta e ter em casa produtos de alta qualidade. “Em três dias intensos, encontramos parceiros, fizemos conexões e apresentamos para novos públicos os produtos e processos que tornam possíveis as cadeias de valor baseadas na sociobiodiversidade. A realização do evento em Belém, sendo esta a primeira vez fora da Europa, nos traz a oportunidade de, através dos produtos e suas histórias, dialogar sobre a centralidade da Amazônia e dos modos de saber e fazer das populações locais para o tema da bioeconomia.”

De Mendes é reconhecida como startup do ano pelo Fórum Mundial de Bioeconomia

A empresa Chocolates De Mendes venceu o prêmio “Startup do Ano” no Fórum Mundial de Bioeconomia. O Comitê Consultivo do evento levou em consideração o impacto da companhia para a bioeconomia circular e para as mudanças climáticas.

A Chocolates De Mendes atua com populações tradicionais da Amazônia, em sintonia com seus valores. Elas são parceiras e fornecedoras das amêndoas de cacau e cupuaçu nativos, utilizadas na fabricação de chocolates e cupulates. 

“É essa riqueza de cultura, de conhecimento ancestral e de história que as nossas barras carregam e querem contar. A De Mendes tem um anseio e um sentimento de urgência para contribuir com a qualidade de vida das pessoas, a preservação da cultura e a identidade dos povos que vivem na Amazônia, assim como para manter a floresta em pé, crucial para o equilíbrio climático do nosso planeta”, afirma o chocolatier César De Mendes.

Viavla - Divulgacao

Amaz divulga negócios selecionados para pré-aceleração no mês de novembro

De 8 a 11 de novembro, empreendedores de 12 negócios selecionados pela AMAZ aceleradora de impacto para participarem do processo de pré-aceleração estarão juntos em Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas, em uma jornada de imersão para desenvolver seus planos de negócios e tese de impacto socioambiental na Amazônia.  A pré-aceleração prossegue ao longo de todo o mês de novembro, virtualmente, com acesso a assessorias, mentorias e apoio técnico da equipe da AMAZ e do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

O desempenho dos negócios nesse período definirá os seis que serão acelerados e receberão investimento de R$ 200 mil em 2022. 

O objetivo é ajudar os empreendedores a compreender e maximizar a capacidade de crescimento dos negócios em termos financeiros, técnicos, operacionais e, especialmente,  de impacto socioambiental positivo.

“A pré-aceleração é a etapa final do processo de seleção. Apenas metade dos negócios receberão investimento e ingressarão no portfólio  da AMAZ em 2021, mas todos os 12 que chegaram até aqui já são vencedores  receberão  nosso apoio durante 1 mês da fase de pré-aceleração, o que os qualifica para buscar novos apoios ou ingressar no portfólio em 2022” define Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam e CEO da AMAZ. 

Os 12 negócios finalistas  atuam com soluções inovadoras para o desenvolvimento de produtos e serviços em cadeias de valor estratégicas para a conservação da Amazônia tais como a restauração e produção florestal, comercialização de produtos da sociobiodiversidade, serviços ambientais e mercado de carbono, alimentação, produtos florestais madeireiros e não madeireiros, sistemas agroflorestais, cosméticos e turismo de base comunitária.

Estão localizados nos estados do Pará, Roraima, Acre, São Paulo e Minas Gerais, com atuação na região norte. A Chamada 2021 possibilitou a inscrição de negócios cuja atuação se dá na Amazônia Legal, mas que poderiam também estar baseados em outras regiões do país.

A seleção da AMAZ teve o olhar focado em negócios em estágio inicial (“early stage”) que tenham já validado seu produto ou serviço no mercado e de preferência já estejam faturando mais de R$ 500 mil por ano.  A maioria dos negócios está em fase de tração, pré-escala e escala. Alguns empreendimentos em estágios anteriores foram selecionados pela apresentação de soluções inovadoras e com potencial de ganhar escala pós-aceleração.

“Ficamos muito impressionados com a qualidade dos negócios e a escala de impacto que podemos alcançar com  eles. Acreditamos fortemente que a construção de uma nova economia depende da atração e  desenvolvimento de bons empreendedores e negócios inovadores na região”, avalia Cenamo.

Os empreendimentos selecionados para aceleração e investimento em 2022 serão anunciados em dezembro.

A AMAZ aceleradora de impacto é coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), e conta com um fundo de financiamento híbrido (“blended finance”) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.  

Tem como fundadores Fundo Vale, Instituto humanize, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation e Fundo JBS pela Amazônia. Tem como parceiros estratégicos a PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia) e a GIZ (Agência Alemã de Cooperação), e conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados. 

Conheça os negócios que participarão da pré-aceleração:

Amazônia Hub = E-commerce de produtos oriundos da sociobiodiversidade da Amazônia. Nasceu com a proposta de trabalhar com todos os elos da cadeia necessários para as marcas amazônicas conseguirem acessar o mercado consumidor, mas optou por enxugar a estratégia e trabalhar com parceiros especializados em cada área, focando nas vendas do e-commerce, marketing digital e promoção dos produtos. Tem atuação nos estados do AC, AM e PA.

Aromas da Amazônia = Iniciada como projeto da empresa Agrotec Consultoria – que atua há oito anos na região Transamazônica-Xingu nas áreas de Assistência Técnica e Extensão Rural. Tem como principal objetivo atender as demandas e serviços no segmento do agronegócio, com foco nas tecnologias de baixo carbono. Tem atuação no estado do PA. 

BrCarbon = Climate Tech Brasileira criada para fomentar ações de conservação florestal e restauração ecológica. Trabalha com fluxos financeiros oriundos do mercado de carbono para promoção de soluções climáticas naturais. Atua com estratégias inovadoras e através da adoção de tecnologias de ponta para acelerar, multiplicar e consolidar projetos de carbono no Brasil. Tem atuação nos estados de AC, AP, AM, MT, PA, RO, RR, TO e MA.

Bravo Açaí = Marca de alimentos saudáveis e superfoods. Além de sonhar com um mercado com produtos mais saudáveis, busca também mudar seu modelo de negócio: quer impactar comunidades diretamente, deixando de comprar de atravessadores do Marajó, comprando e apoiando o desenvolvimento econômico dos produtores de açaí na região, e investindo em certificação e no aprimoramento dos processos. Atua em parceria com a Bio-Assets (projeto REDD+) na região. Tem atuação nos estados do AP e PA.

Coopercintra = A Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e

Economia Solidária de Nova Cintra foi criada com o objetivo de atuar na exploração e comercialização produtos florestais não madeireiros (como muru-muru, por exemplo, que é carro-chefe hoje), já trabalhados pela associação local. Tem atuação no estado do AC.

Floresta S.A. = Modelos regenerativos em escala, com um portfólio de 10 culturas agrícolas e madeireiras. Além de produtos da bioeconomia, traz ao mercado financeiro oportunidade de investimento direto em agrofloresta na Amazônia, com rentabilidade alvo de 17% ao ano. Tem atuação no estado de RR.

Inocas = Tem como objetivo gerar uma alternativa ao óleo de soja e palma, alavancando a cadeia produtiva da macaúba como fonte de óleos vegetais sustentáveis. O piloto da companhia está localizado na região do bioma cerrado no Alto Paranaíba, em MG, e terá implementado, até o final de 2021, o plantio de 2.000 hectares de macaúba em sistema agrossilvipastoril em parceria com agricultores familiares. A empresa já está em fase de pré-operações de sua primeira expansão, localizada na região do Vale do Paraíba, SP, e pretende iniciar também em 2021 a expansão para a Amazônia Legal, com o plantio de 3.000 hectares. 

Kawa = Oferece aos seus clientes uma linha de fitocosméticos naturais restauradores, tanto de quem usa quanto dos ambientes de onde provêm os insumos. Entre seus fornecedores estão os povos Ashaninka e Huni Kuin no Acre e Guarani em São Paulo. Tem atuação no estado do AC.

Mahta = Foodtech que atua na área de suplementos alimentares produzidos com ingredientes predominantemente provenientes de comunidades amazônicas. Objetiva gerar inovação e valor, além de reduzir os impactos ambientais negativos, por meio de cadeias produtivas com a participação de comunidades locais, modelo que pode ser replicado para uma mudança sistêmica na indústria alimentícia. Simultaneamente, entregará valor nutricional diferenciado aos consumidores, impulsionando a conservação e regeneração da Amazônia. Pretende atuar  nos estados de AC, AM, MT, PA, RO e RR.

Pacajá Móveis = Produção de móveis e objetos de decoração a partir de resíduos de manejo florestal. O negócio está vinculado à Fazenda ABC Norte (Fazenda Pacajá) e busca o aproveitamento de resíduos e fomento ao programa de responsabilidade socioambiental da empresa. A principal atividade da fazenda é o manejo florestal sustentável certificado (PEFC/CERFLOR) para produção de madeira. O sonho é expandir o projeto da movelaria para outras comunidades do entorno, agregando-os na produção dos móveis e, assim, garantindo alternativas de renda sustentável para estas famílias. Tem atuação no estado do PA.

Soul Brasil Cuisine = Tem como missão apresentar produtos com ingredientes da biodiversidade brasileira – especialmente a amazônica – sustentáveis, orgânicos, veganos e livres de substâncias artificiais para o Brasil e o mundo. Está no mercado há quase três anos, presente principalmente em empórios e supermercados do eixo Rio e São Paulo, além de exportar para Estados Unidos e Europa. Os produtos têm certificação orgânica. Tem atuação nos estados de AM, PA e AC.

Vivalá = Realiza expedições em Unidades de Conservação brasileiras por meio

do turismo de base comunitária. Busca atuar no desenvolvimento socioambiental do país de modo inovador, unindo em expedições vivências com comunidades, natureza e voluntariado. Tem atuação nos estados de AM, PA, MA e GO.

Foto: acervo Vivalá